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A Restauração das imagens sacras da igreja Nossa Senhora da Boa Viagem
A conservação e restauração da obra de arte exigem um profissional especializado que tenha domínio técnico e muita sensibilidade estética. O restaurador precisa ter um bom nível de conhecimento interdisciplinar que envolve áreas como química, biologia, botânica, física, história e história da arte. É necessário conhecer bem a obra e as suas degradações antes de realizar as intervenções que se fizerem necessárias, buscando coloca-la no lugar de valor a que tem direito.
Algumas imagens existentes na igreja Nossa Senhora da Boa Viagem de Belo Horizonte são de origem bastante antiga, muito anteriores à própria edificação atual da igreja. Como essas imagens se encontravam deterioradas pelo passar do tempo, e por restaurações e pinturas feitas sem o devido cuidado, a paróquia contratou a empresa RARA – Relíquia Ateliê de Restauração Artística, especializada em restauração de objetos de arte, principalmente escultura e pintura. A equipe do RARA que está trabalhando na restauração das imagens da igreja Nossa Senhora da Boa Viagem é constituída pelas restauradoras Luzia Marta, Jussara Alves, Helena Gonçalves e Núbia Quinetti.
No processo de restauração busca-se manter as características originais da peça removendo as intervenções inadequadas e corrigindo apenas os danos ocasionados pelo processo natural de envelhecimento ou manuseio inapropriado.
A princípio são realizados exames organolépticos, documentação científica por imagem, exames físico-químicos, exame de raios X. O tratamento consiste basicamente na limpeza mecânica e química para remoção das sujidades, consolidação das perdas de suporte e das fraturas, remoção de intervenções inadequadas, nivelamento das lacunas e abrasões, remoção de repintura, reintegração cromática, apresentação estética e aplicação de verniz.
No momento estão passando pelo processo de restauração as imagens da Nossa Senhora da Boa Viagem e um Anjo Tocheiro. As imagens do Sagrado Coração de Jesus, de São Pedro Julião Eymard e de São José já tiveram o trabalho de restauração concluído.
As imagens já restauradas e em fase de restauração carregam características e informações apresentam um valor histórico bastante importante. A imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem que, de acordo com alguns historiadores, é de 1709, chegou a Curral Del Rey muito antes da fundação da capital Belo Horizonte. Duas esculturas em madeira, uma de São José e uma do Sagrado Coração de Jesus são do escultor italiano Ferdinando Stuflesser. Algumas imagens de gesso são da fábrica francesa, Maison Raffl, que atuou de 1857 a 1920. Muitas delas foram adquiridas através da Casa Suscena, do Rio de Janeiro e Casa Cór de Belo Horizonte, lojas que comercializavam imagens sacras e já não existem mais. Tudo isso juntamente com a devoção dos fiéis, fazem delas peças muito especiais.
Todas as imagens quando foram entregues para o projeto de restauração, apresentavam sujidade generalizada, abrasões, oxidação de verniz e, algumas perdas no suporte. Muitas delas passaram por processo de repintura. A imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, por exemplo, apresentava várias camadas de repintura, com os olhos de vidro, que se perderam, substituídos por outros de massa e pintura. Esses olhos estão sendo substituídos por olhos confeccionados pela ocularista Elizabeth Silveira, especialista em prótese ocular para humanos. O escultor Guilherme Marques esculpiu dois dedos da mão esquerda de Nossa Senhora da Boa Viagem e também dois dedos da mão direita do São José. Algumas imagens estavam infestadas por cupins, incluindo as de gesso, em sua base de madeira. A imagem de São Pedro Julião Eymard continha muitos abrasões e fraturas em vários pontos, sendo as de maior gravidade na casula e na base. Após grande empenho se conseguiu fazer a recuperação da base original dessa imagem, de grande beleza, que antes se encontrava encoberta por uma estrutura em madeira descaracterizada do restante da imagem.
O trabalho de restauração leva em média de três a oito meses, variando de acordo com o estado de conservação e a gravidade das degradações encontradas. A imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem apresenta uma condição especial pelo fato da mesma ser tombada e assim cada fase da restauração necessitar de aprovação e acompanhamento do IEPHA – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico.
Após a restauração cada imagem será reapresentada à comunidade da paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem e de Belo Horizonte.
A restauração das imagens somente está sendo possível graças à sua contribuição às obras do Restauro da igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem. Veja como você pode contribuir clicando aqui.
Imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, anda em fase de restauração Imagem de São Pedro Julião Eymard antes e após a restauração