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Páscoa: Passagem do Senhor em nossa vida.
A palavra páscoa expressa muito bem aquilo que constitui e caracteriza a pessoa humana enquanto ser plenamente aberto ao outro e em constante processo de crescimento na comunidade. Esta palavra tão usual na cultura judaica e cristã possui uma riqueza de significados. Dentre estes diversos sentidos queremos destacar somente aquele que mais interessa à nossa vivência de fé e expressa, por sua vez, o dinamismo da vida nova em Cristo.
Páscoa é uma palavra carregada de força vital. Desde criança aprendemos na catequese seu sentido mais profundo e ouvimos de modo acertado a breve definição: páscoa é passagem. Ao pronunciá-la nos damos conta de que existe um mistério de amor que envolve nossa existência histórica no mundo. Por trás destas palavras encontramos um verdadeiro programa de vida. Esta afirmação tão abreviada suscita em nosso íntimo algumas perguntas que nos deixam profundamente inquietos: A páscoa é em si um acontecimento ou uma pessoa? Qual o fato que nós recordamos ao celebrá-la anualmente? Quem é aquele que passa e para onde deseja conduzir-nos ao passar pela nossa vida?
À luz da fé cristã podemos afirmar que a páscoa é simultaneamente um evento e uma pessoa. Não se trata de um fato passado perdido no tempo e no espaço, vivido apenas ritualmente durante a Semana Santa, mas de uma realidade presente e atual em nossa vida quotidiana. Enquanto evento a páscoa se refere à vida inteira de Jesus, mais ainda, àquela hora decisiva, tão desejada e anunciada pelo Senhor antes de lavar os pés de seus amigos durante a última ceia: a hora extrema de passar deste mundo para o Pai (Jo 13,1). Neste sentido a páscoa nos remete sempre à paixão e morte de Cristo na cruz e à sua ressurreição gloriosa.
A páscoa cristã também tem um rosto humano-divino: Cristo é a nossa páscoa (1Cor 5,7-8). Trata-se, pois de uma pessoa real que vem ao nosso encontro para apontar-nos o caminho de uma vida nova: vai e de agora em diante não peques mais (Jo 8,11). Aquele que andou por toda a parte fazendo o bem (At 10, 38) ainda hoje realiza sua passagem entre nós. Nas encruzilhadas da vida, ele vem ao nosso encontro de diversas maneiras, para despertar-nos do sono de nosso egoísmo e abrir nossos corações ao verdadeiro amor. Esta passagem do Ressuscitado no dia-a-dia de nossa existência exige de nós uma maior abertura e atenção ao “outro”, àquele que é o nosso próximo; pois cada irmão é um lugar privilegiado de encontro com Deus. A cada ano, ao celebrarmos esta grande solenidade, somos convidados a fazer uma profunda experiência de encontro com o Cristo Ressuscitado. Ele está no meio de nós!
O Cristo que passa deseja transportar-nos a uma realidade que permanece para sempre: a vida de comunhão com o Pai, ou melhor, a vida eterna. Bem expressou isto o grande Doutor da Igreja, Santo Agostinho: “Passemos ao Deus Eterno para não passarmos com aquelas coisas que passam”. Este é o destino absoluto de todos os batizados que condividem sua vida com o Mestre, pois não nascemos para morrer, mas para ressuscitar. Aquele que passa deseja arrastar consigo toda a humanidade, afim de que esta experimente a beleza de uma vida de comunhão plena com Deus e com os irmãos. Só entra na vida aquele que ama como Jesus amou. Ele nos amou até o fim dando a sua vida por nós (Jo 13, 2), também devemos dar a vida pelos nossos irmãos. O seu amor é eterno e a morte não colocou fim ao seu amor por todos os seres humanos. Se Deus assim nos amou, devemos, nós também, amar-nos uns aos outros (1Jo 4,11).
A condição para experimentarmos esta vida nova em Cristo é a vivência do mandamento do amor. Não existe vida nova fora deste horizonte apontado por Jesus: amai-vos como eu vos amei (Jo 13,34). Passa da morte à vida aquele que ama. Assim nos ensina o evangelista João: sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Aquele que não ama permanece na morte (1Jo 3,14). A todos desejamos uma Feliz Páscoa!
Dom Geovane Luís
Bispo Auxiliar – Belo Horizonte